A NECESSIDADE VÃ DE COMPRAR

03/02/2025 às 08h30

Um preenchimento fugaz que só aumenta o vazio dentro de nós.

Várias pessoas acreditam que compras preenchem vazios. Vazios na alma, vazios no coração, vazios no guarda-roupa. Certamente não estou me referindo a compras necessárias, que ocorrem quando realmente precisamos adquirir um item. Refiro-me aqui a compras eletivas, compras dispensáveis e totalmente supérfluas, que não são necessárias para suprir ausências reais e carecimentos físicos.

Quando estamos tristes ou mesmo quando estamos alegres e dispomos de algum valor monetário (sabe quando você recém recebeu seu salário?), a ida ao shopping, a uma loja, aparentemente nos preenche e nos deixa mais alegres. Aparentemente.

A descarga de dopamina, uma operação cerebral que ocorre em situações de perigo ou em situações de prazer, possibilita agirmos rapidamente para nossa proteção ou nos leva a termos alegrias instantâneas e rápidas, como quando realizamos compras e ficamos imediatamente felizes.

Mas a liberação do neurotransmissor dopamina em nosso cérebro, que deveria ocorrer para encararmos situações realmente difíceis, com coragem, está acontecendo para mascarar tristezas ou trazer pequenos contentamentos que duram pouco tempo.

Daí a necessidade de preencher esses espaços vazios (ou o nosso corpo) com dopamina, mais uma vez, leva pessoas compulsivas a realizar novas compras e, após findado o prazer, mais compras.

O mesmo ocorre com a compulsão por jogos e apostas, por bebida alcoólica, por cigarro e por outros vícios. São alegrias falsas, alegrias momentâneas e que não irão durar. Mais ainda, irão nos prejudicar.

Momentos de felicidade indeléveis, ou seja, alegrias onde as descargas de dopamina no corpo são prolongadas e saudáveis, podem vir da prática de exercícios físicos, de boas e recuperadoras noites de sono, do consumo de alimentos ricos em tirosina (um aminoácido não essencial, ou seja, produzido pelo corpo, que é responsável pela regulação, entre outras funções, do humor e do nosso bem estar), como abacate, banana e amêndoas, além de práticas de meditação e relaxamento ou o cumprimento de metas e desafios que nos levam a ser pessoas mais determinadas e conscientes de nossas reais necessidades.

Todos os anos, quando o calendário muda, propomo-nos às “resoluções de ano novo”, não?

Muitas pessoas escrevem em cadernos ou blocos de notas atitudes que desejariam ter para o novo ano ou quesitos em que deveriam mudar ou melhorar, aspectos de suas próprias personalidades. Talvez deixar de comprar compulsivamente seja um comportamento que precisamos adotar.

Um pensamento comum pode ser o de que comprando, estamos auxiliando a mover a economia local ou ajudando o vendedor a adquirir seus recursos.

Só que muitas vezes realizamos compras de grandes empresas, de grandes marcas que já se beneficiam (e muito) das aquisições das pessoas da sociedade, ou seja, não comprar em uma grande rede não deixará ela menos afortunada – pelo contrário. Estaremos preservando nosso patrimônio e nossos recursos ao recusar uma compra desnecessária.

Precisamos levar em conta que, se já possuímos dívidas, ou se não temos a obrigação (somente a vontade), de adquirir determinado item, comprar vai prejudicar a nós mesmos, as pessoas mais importantes de nossas vidas. Cada indivíduo precisa ser responsável por cuidar de si – estar endividado, definitivamente, não é autocuidado.

Sem mais delongas, pois a intenção não é que este texto promova culpa, mas sim, um alerta, precisamos ter em mente que momentos de regozijo verdadeiro podem advir de atitudes não compulsivas, como estar com pessoas e animais que amamos, cozinhar um alimento gostoso e saudável para aqueles que nos querem bem, realizar passeios e viagens (que não nos endividem), caminhadas (ou o esporte que lhe convier ou lhe agradar), uma leitura edificante, estar em contato com a natureza ou cuidar de um jardim, por exemplo.

Qualquer programação/atividade que nos preencha os vazios e afaste as preocupações (sem envolver relações monetárias que criam problemas de endividamento e tiram nosso sono) serão mais positivas e benéficas do que adquirir bens ou prazeres efêmeros causadores de infortúnios futuros, como as dívidas.

Não se trata de ter mais dinheiro para gastar mais, mas de aproveitar situações factíveis e felizes que nos alegram sem nos prejudicar. A sociedade moderna, o mercado, o mundo – a humanidade? – têm nos implicado uma necessidade falsa e vazia de que precisamos comprar, comprar e comprar, até chegarmos, muitas vezes, ao endividamento.

BEIJO NA BOCA ENTRE FILHOS E PAIS

05/11/2023 às 09h47

O QUE PODE ESTAR POR TRÁS DESSE SIMPLES HÁBITO

É bastante comum o gesto, entre pais e filhos, da troca de beijinhos (na boca), os famosos “selinhos”. A demonstração de carinho, aparentemente inofensiva, em famílias emocionalmente saudáveis, não traria maiores prejuízos psicológicos, pode-se pensar – afinal, “O que um inocente beijinho pode causar de malefícios? Estou apenas demonstrando meu amor por meu filho(a)!” –

Pensaria grande parte dos leitores, adultos, e que são também genitores. Contudo, trago aqui uma reflexão sobre o ato simbólico de beijar os pequenos. Como educadora e especialista em Educação Infantil, vejo-me na obrigação de realizar um alerta a todos os pais e mães conscientes, embora a temática possa gerar críticas. Explico o porquê.

Trocas afetivas são comuns e necessárias entre pessoas que se amam, isso é inquestionável. O beijo é um costume social bastante praticado, principalmente em regiões ocidentais do globo. Em nosso país tropical, o Brasil, onde os povos são considerados como uns dos mais amistosos e afetuosos, comumente cumprimentamos pessoas conhecidas com beijos estalados no rosto – podem ser praticados os três beijos alternados em cada bochecha, ou ainda dois beijos, um de cada lado, ou mesmo um simples “encostar único de bochechas”, de modo mais rápido e prático. Apertos de mão são delegados para situações mais formais e, principalmente, quando não temos intimidade com as pessoas cumprimentadas. Assim, beijar sempre foi demonstrar apreço, e até já comentei sobre o dia do beijo por aqui (era época de pandemia e necessitávamos ser cautelosos quanto à prevenção de transmissão de doenças).

Como pedagoga, acredito que o ato de beijar alguém, principalmente na boca, é bastante saudável entre pessoas adultas e quando praticado de forma consensual, ou seja, quando ambas as pessoas da relação concordam com o ato e o desejam praticar. Porém, entre adultos e crianças, o gesto não é tão inocente assim.

Obviamente, a maioria dos pais, sendo eles cidadãos éticos e coerentes, não veem o gesto com malícia ou como indicador de maiores prejuízos a seus filhos. Contudo, o beijo na boca abre precedentes para que nossos filhos considerem o hábito como um ato normal. Assim, normalizar o beijo, que para a maioria dos pais, realmente, demonstra afeto entre mãe e filha(o), ou entre pai e filho(a), pode significar à criança que compreenda que qualquer outro adulto pode solicitar beijos – e não deveria ser considerado razoável beijos entre pessoas adultas e crianças.

Não podemos fechar os olhos à comum prática desviada e criminosa que é a pedofilia. Embora considerado um comportamento grotesco e vil, cometer violência sexual com pequenos é bastante comum, não somente em redes virtuais, mas também presencialmente. Adultos inescrupulosos se aproveitam da inocência de nossos infantes, muitas vezes desprotegidos pelos pais, os quais não observam o conteúdo acessado por eles na internet. Assim, desconhecidos ganham a confiança das crianças oferecendo-lhes prêmios, brinquedos, jogos, doces e outros atrativos. Após, marcam encontros e se fazem passar por amigos, até que cometem os atos ilícitos e absurdos. Esse rápido e fatal percurso acontece frequentemente, acredite!

Dados recentes da rede CNN Brasil informaram que familiares e conhecidos são responsáveis por 68% dos casos de violência sexual contra crianças de 0 a 9 anos no Brasil. Entre as vítimas de 10 a 19 anos, o crime é cometido por pessoas próximas em 58,4% dos casos. Entre 2015 e 2021, o país registrou mais de 200 mil casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes – sem mencionar os casos velados que não foram noticiados ou reconhecidos. Esse número desastroso e alarmante tenderá a aumentar se terceirizarmos a educação de nossos filhos a outras pessoas ou se não lhes dermos a devida atenção.

Mas de volta ao beijinho na boca entre pais e filhos… Mesmo em uma família saudável, o costume pode significar à criança, que ainda não tem total compreensão da ética, nem tem seu senso de criticidade completamente construído, que pode ser aceitável beijar outros parentes ou mesmo estranhos, ocorrendo a solicitação desse beijo ou de outras demonstrações “afetivas”. Não é tão difícil que demonstremos nosso carinho pelos pequenos com beijinhos no rosto, com abraços apertados, com afagos, cafunés, colinhos e aconchegos! O beijo na boca é um afeto que deveria ser promulgado pelos casais. Isso assegura que a criança compreenda que só irá praticar o beijo na boca quando for adulta, talvez quando adolescente.

É vital, também, que ensinemos às crianças que não devem permitir a ninguém o direito de lhes pedir beijos ou toques em seus corpos. Ao mesmo tempo, não devemos obrigar crianças a aceitar ou dar beijos sem que sintam vontade. Elas não devem ser obrigadas a cumprimentar tio ou tia, parente que seja, com beijos ou abraços, por incumbência ou por educação. A criança não deve realizar nenhum ato formal que se sinta incomodada a fazer, com medo de ser intitulada de “malcriada” ou “feia, boba, mimada”. Tais designações são um total desrespeito e uma violação de seus direitos, os quais sempre devem ser assegurados, ainda mais pelos pais. 

Em suma, é extremamente importante que dialoguemos frequentemente com as crianças de nossa família, desde a tenra infância até a juventude. “Se você não der atenção ao seu filho, o abusador dará” – a frase proferida por educadores parentais não poderia ser mais verdadeira. Beijar é um ato bonito, mas que requer cuidado, consideração e compreensão, além de permissão e aceitação de todas as partes envolvidas. Proteger nossos pequenos é muito mais pertinente que nosso anseio por um afeto desarmonioso.

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