BEIJO NA BOCA ENTRE FILHOS E PAIS

05/11/2023 às 09h47
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O QUE PODE ESTAR POR TRÁS DESSE SIMPLES HÁBITO

É bastante comum o gesto, entre pais e filhos, da troca de beijinhos (na boca), os famosos “selinhos”. A demonstração de carinho, aparentemente inofensiva, em famílias emocionalmente saudáveis, não traria maiores prejuízos psicológicos, pode-se pensar – afinal, “O que um inocente beijinho pode causar de malefícios? Estou apenas demonstrando meu amor por meu filho(a)!” –

Pensaria grande parte dos leitores, adultos, e que são também genitores. Contudo, trago aqui uma reflexão sobre o ato simbólico de beijar os pequenos. Como educadora e especialista em Educação Infantil, vejo-me na obrigação de realizar um alerta a todos os pais e mães conscientes, embora a temática possa gerar críticas. Explico o porquê.

Trocas afetivas são comuns e necessárias entre pessoas que se amam, isso é inquestionável. O beijo é um costume social bastante praticado, principalmente em regiões ocidentais do globo. Em nosso país tropical, o Brasil, onde os povos são considerados como uns dos mais amistosos e afetuosos, comumente cumprimentamos pessoas conhecidas com beijos estalados no rosto – podem ser praticados os três beijos alternados em cada bochecha, ou ainda dois beijos, um de cada lado, ou mesmo um simples “encostar único de bochechas”, de modo mais rápido e prático. Apertos de mão são delegados para situações mais formais e, principalmente, quando não temos intimidade com as pessoas cumprimentadas. Assim, beijar sempre foi demonstrar apreço, e até já comentei sobre o dia do beijo por aqui (era época de pandemia e necessitávamos ser cautelosos quanto à prevenção de transmissão de doenças).

Como pedagoga, acredito que o ato de beijar alguém, principalmente na boca, é bastante saudável entre pessoas adultas e quando praticado de forma consensual, ou seja, quando ambas as pessoas da relação concordam com o ato e o desejam praticar. Porém, entre adultos e crianças, o gesto não é tão inocente assim.

Obviamente, a maioria dos pais, sendo eles cidadãos éticos e coerentes, não veem o gesto com malícia ou como indicador de maiores prejuízos a seus filhos. Contudo, o beijo na boca abre precedentes para que nossos filhos considerem o hábito como um ato normal. Assim, normalizar o beijo, que para a maioria dos pais, realmente, demonstra afeto entre mãe e filha(o), ou entre pai e filho(a), pode significar à criança que compreenda que qualquer outro adulto pode solicitar beijos – e não deveria ser considerado razoável beijos entre pessoas adultas e crianças.

Não podemos fechar os olhos à comum prática desviada e criminosa que é a pedofilia. Embora considerado um comportamento grotesco e vil, cometer violência sexual com pequenos é bastante comum, não somente em redes virtuais, mas também presencialmente. Adultos inescrupulosos se aproveitam da inocência de nossos infantes, muitas vezes desprotegidos pelos pais, os quais não observam o conteúdo acessado por eles na internet. Assim, desconhecidos ganham a confiança das crianças oferecendo-lhes prêmios, brinquedos, jogos, doces e outros atrativos. Após, marcam encontros e se fazem passar por amigos, até que cometem os atos ilícitos e absurdos. Esse rápido e fatal percurso acontece frequentemente, acredite!

Dados recentes da rede CNN Brasil informaram que familiares e conhecidos são responsáveis por 68% dos casos de violência sexual contra crianças de 0 a 9 anos no Brasil. Entre as vítimas de 10 a 19 anos, o crime é cometido por pessoas próximas em 58,4% dos casos. Entre 2015 e 2021, o país registrou mais de 200 mil casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes – sem mencionar os casos velados que não foram noticiados ou reconhecidos. Esse número desastroso e alarmante tenderá a aumentar se terceirizarmos a educação de nossos filhos a outras pessoas ou se não lhes dermos a devida atenção.

Mas de volta ao beijinho na boca entre pais e filhos… Mesmo em uma família saudável, o costume pode significar à criança, que ainda não tem total compreensão da ética, nem tem seu senso de criticidade completamente construído, que pode ser aceitável beijar outros parentes ou mesmo estranhos, ocorrendo a solicitação desse beijo ou de outras demonstrações “afetivas”. Não é tão difícil que demonstremos nosso carinho pelos pequenos com beijinhos no rosto, com abraços apertados, com afagos, cafunés, colinhos e aconchegos! O beijo na boca é um afeto que deveria ser promulgado pelos casais. Isso assegura que a criança compreenda que só irá praticar o beijo na boca quando for adulta, talvez quando adolescente.

É vital, também, que ensinemos às crianças que não devem permitir a ninguém o direito de lhes pedir beijos ou toques em seus corpos. Ao mesmo tempo, não devemos obrigar crianças a aceitar ou dar beijos sem que sintam vontade. Elas não devem ser obrigadas a cumprimentar tio ou tia, parente que seja, com beijos ou abraços, por incumbência ou por educação. A criança não deve realizar nenhum ato formal que se sinta incomodada a fazer, com medo de ser intitulada de “malcriada” ou “feia, boba, mimada”. Tais designações são um total desrespeito e uma violação de seus direitos, os quais sempre devem ser assegurados, ainda mais pelos pais. 

Em suma, é extremamente importante que dialoguemos frequentemente com as crianças de nossa família, desde a tenra infância até a juventude. “Se você não der atenção ao seu filho, o abusador dará” – a frase proferida por educadores parentais não poderia ser mais verdadeira. Beijar é um ato bonito, mas que requer cuidado, consideração e compreensão, além de permissão e aceitação de todas as partes envolvidas. Proteger nossos pequenos é muito mais pertinente que nosso anseio por um afeto desarmonioso.

Sobre o autor

Caroline Chaves

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