FECHAR PORTAS
“Mudança dá um trabalho…” Ouvi uma senhora comentando com a outra, enquanto desviava o caminho com seu carrinho de feira -, para abrir espaço para o caminhão estacionar. No condomínio em que moro é um entra-e-sai constante, principalmente no início dos anos.
Embora a gente saiba que empacotar tudo para desempacotar depois, gasta bastante energia, requer disposição e vontade – mesmo assim -, a gente faz. E faz porque sempre procuramos algo melhor, o que não temos. O que falta.
Confesso que rotina é um ponto alto da minha vida porque dá uma certa confiança no manejo dos dias e eu me sinto confortável assim. Mas por outro lado sou uma pessoa extremamente fácil de se adaptar às mudanças. Houve uma época em que mudei bastante, de residência mesmo. E também de ideia, de cidade, de gosto, de estilo, de hábitos. E vivo me surpreendendo. Porque no final de tudo, sempre acabo pensando que demorei a tomar determinada decisão.
Só que nem sempre a mudança resolve.
Depois de tanto mudar e provar isso ou aquilo, a gente percebe que a mudança externa, essa que enche os olhos dos outros e também alimenta o nosso ego, nunca é plena. Porque a gente muda a roupa, o perfume, a conta bancária, o cabelo; mas no fundo, continua faltando um pedaço. E falta porque muitas vezes deixamos uma fresta. Aquela porta entreaberta que não permite um adeus verdadeiro. Para mudar é preciso dar tchau. Aquele “fui” para o que não serve mais. Porque a verdadeira mudança acontece quando o olhar está certeiro à frente e a gente é capaz de ouvir de longe a porta bater. Lá atrás. No passado. No que ficou. Porque agora, a vida caminha em outra direção…