A NECESSIDADE VÃ DE COMPRAR
Um preenchimento fugaz que só aumenta o vazio dentro de nós.
Várias pessoas acreditam que compras preenchem vazios. Vazios na alma, vazios no coração, vazios no guarda-roupa. Certamente não estou me referindo a compras necessárias, que ocorrem quando realmente precisamos adquirir um item. Refiro-me aqui a compras eletivas, compras dispensáveis e totalmente supérfluas, que não são necessárias para suprir ausências reais e carecimentos físicos.
Quando estamos tristes ou mesmo quando estamos alegres e dispomos de algum valor monetário (sabe quando você recém recebeu seu salário?), a ida ao shopping, a uma loja, aparentemente nos preenche e nos deixa mais alegres. Aparentemente.
A descarga de dopamina, uma operação cerebral que ocorre em situações de perigo ou em situações de prazer, possibilita agirmos rapidamente para nossa proteção ou nos leva a termos alegrias instantâneas e rápidas, como quando realizamos compras e ficamos imediatamente felizes.
Mas a liberação do neurotransmissor dopamina em nosso cérebro, que deveria ocorrer para encararmos situações realmente difíceis, com coragem, está acontecendo para mascarar tristezas ou trazer pequenos contentamentos que duram pouco tempo.
Daí a necessidade de preencher esses espaços vazios (ou o nosso corpo) com dopamina, mais uma vez, leva pessoas compulsivas a realizar novas compras e, após findado o prazer, mais compras.
O mesmo ocorre com a compulsão por jogos e apostas, por bebida alcoólica, por cigarro e por outros vícios. São alegrias falsas, alegrias momentâneas e que não irão durar. Mais ainda, irão nos prejudicar.
Momentos de felicidade indeléveis, ou seja, alegrias onde as descargas de dopamina no corpo são prolongadas e saudáveis, podem vir da prática de exercícios físicos, de boas e recuperadoras noites de sono, do consumo de alimentos ricos em tirosina (um aminoácido não essencial, ou seja, produzido pelo corpo, que é responsável pela regulação, entre outras funções, do humor e do nosso bem estar), como abacate, banana e amêndoas, além de práticas de meditação e relaxamento ou o cumprimento de metas e desafios que nos levam a ser pessoas mais determinadas e conscientes de nossas reais necessidades.
Todos os anos, quando o calendário muda, propomo-nos às “resoluções de ano novo”, não?
Muitas pessoas escrevem em cadernos ou blocos de notas atitudes que desejariam ter para o novo ano ou quesitos em que deveriam mudar ou melhorar, aspectos de suas próprias personalidades. Talvez deixar de comprar compulsivamente seja um comportamento que precisamos adotar.
Um pensamento comum pode ser o de que comprando, estamos auxiliando a mover a economia local ou ajudando o vendedor a adquirir seus recursos.
Só que muitas vezes realizamos compras de grandes empresas, de grandes marcas que já se beneficiam (e muito) das aquisições das pessoas da sociedade, ou seja, não comprar em uma grande rede não deixará ela menos afortunada – pelo contrário. Estaremos preservando nosso patrimônio e nossos recursos ao recusar uma compra desnecessária.
Precisamos levar em conta que, se já possuímos dívidas, ou se não temos a obrigação (somente a vontade), de adquirir determinado item, comprar vai prejudicar a nós mesmos, as pessoas mais importantes de nossas vidas. Cada indivíduo precisa ser responsável por cuidar de si – estar endividado, definitivamente, não é autocuidado.
Sem mais delongas, pois a intenção não é que este texto promova culpa, mas sim, um alerta, precisamos ter em mente que momentos de regozijo verdadeiro podem advir de atitudes não compulsivas, como estar com pessoas e animais que amamos, cozinhar um alimento gostoso e saudável para aqueles que nos querem bem, realizar passeios e viagens (que não nos endividem), caminhadas (ou o esporte que lhe convier ou lhe agradar), uma leitura edificante, estar em contato com a natureza ou cuidar de um jardim, por exemplo.
Qualquer programação/atividade que nos preencha os vazios e afaste as preocupações (sem envolver relações monetárias que criam problemas de endividamento e tiram nosso sono) serão mais positivas e benéficas do que adquirir bens ou prazeres efêmeros causadores de infortúnios futuros, como as dívidas.
Não se trata de ter mais dinheiro para gastar mais, mas de aproveitar situações factíveis e felizes que nos alegram sem nos prejudicar. A sociedade moderna, o mercado, o mundo – a humanidade? – têm nos implicado uma necessidade falsa e vazia de que precisamos comprar, comprar e comprar, até chegarmos, muitas vezes, ao endividamento.