PARA SER GRANDE É PRECISO SER LEVE
Tirei uma tarde dessas para arrumar os armários. Revirando algumas pastas, encontrei as quase extintas fotografias de papel. Reparei e até com alguma surpresa que, eu era uma criança que desejava crescer. As imagens denunciavam o que me recordo com alguma distância hoje: o detrás das pernas cruzadas, batom e óculos escuros. Eu queria ser grande.
Hoje em dia, curiosamente, tenho pensado sobre o que está além do desejo de explorar, conhecer e ousar. Já senti que a vida, o tempo e até as circunstâncias em alguma medida, já me fizeram a poda em algum momento. É assim que se ganha força ou quem sabe, coragem, para que seja possível ganhar tamanho. Como fazem as árvores: recebem luz e ar – e abandonam os galhos danificados depois da poda – para seguirem crescendo. Em tamanho, robustez e vitalidade.
O interessante da vida é perceber que, nunca me tornarei maior do que sou sem que eu faça cortes em mim mesma. Porque não é possível receber mais nada se estou cheia. Saturada. Até a tampa. É importante deixar coisas pelo caminho. A gente pensa que precisa aumentar, acumular, colecionar. Mas não. Antes disso, teremos de nos esvaziar. Abrir espaço. Para poder receber. É assim que a gente cresce.
Depois de percorrer os álbuns antigos e deixar as gavetas mais espaçosas, sentei no sofá com uma foto minha e pensei. “Essa menina que desejava tanto aprender e crescer, está agora olhando para si mesma desejando apenas ser ela. Porque depois de procurar e juntar tanto, ela entendeu que só deixando para trás que é possível seguir”.
Para ser grande é preciso ser leve.