ASTER

Aster” era assim: um gatinho peludo e assustado que vivia a se esconder por entre os galhos de um pé de macieira que enfeitava o quintal da casa de dona Joana. Certo dia, ele comeu tantas maçãs que, de longe, quem passava por ali podia confundi-lo com elas.
Do outro lado da rua havia uma gatinha muito elegante com pelos cor-de-rosa, laços de fita laranja na cabeça que corria de um lado a outro a sacudir um pequeno sino dourado a volta de seu pescoço.
Aster só tinha olhos para a bela Missy. Escondido, ele a observa, mas sem coragem para aproximar-se. Segundo o que se comenta de sua história, ele fora abandonado por seus pais quando ainda era um bebê.

Durante muito tempo ele precisou aprender a sobreviver nas ruas escondendo seus verdadeiros sentimentos até que um certo dia ele esbarrou em Joana, ou será que foi Joana que esbarrou nele? Bem, isso não tem tanta importância agora.
O fato importante nessa história é que Aster ganhou uma nova chance de se reencontrar com a sua melhor parte através de um lar repleto de cuidado e amor. Mesmo assim, Aster ainda insistia a esconder seus sentimentos por receio de críticas e julgamentos.
Então, ele passou a refugiar-se por entre as árvores tendo apenas como companhia as maçãs. Buscava se sentir seguro e ali seria o abrigo perfeito. Mas em seu peito, sentia uma vontade enorme de se aproximar da bela Missy, a felina que lhe desperta sentimentos ainda desconhecidos. Descer daquela árvore era um risco que hesitava em correr, o que lhe causava muita inquietação.

Em sua mente vinha um pensamento: Será que vou sobreviver se descer daqui? E o que poderia oferecer a Missy? O que Aster não sabia ainda é que na maioria das vezes, a nossa mente, mente. Eis que numa certa manhã ensolarada, Aster sentiu-se um tanto ansioso.
Não compreendia o porquê, tudo estava bem, no mesmo lugar de costume… Mesmo assim, após subir na macieira, saciar a sua fome, algo lhe faltava.
Queria muito descer daquela árvore, provar de outras frutas, conhecer outros lugares, e ao lado de Missy para um novo mundo despertar. Durante algum tempo aquela árvore fora tudo para ele, mas agora não mais.
De repente o vento começou a soprar forte naquela manhã balançando os galhos da árvore fazendo com que as maçãs começassem cair ao chão, uma a uma.

Nesse instante, Aster compreendeu que aquele lugar que um dia fora seu porto seguro, já não é mais como antes. Seu coração pulsou mais forte nesse dia e então ele decidiu saltar. Seu corpo estremeceu, ele respirou profundamente, fechou seus olhos por alguns instantes, e com a coragem de um leão sob a luz do sol o mais lindo de todos os saltos aconteceu.
Ao tocar suas patinhas no gramado, Aster pôde sentir a maciez com que as folhas o saudaram. Um novo sentimento nele brotou, uma conexão profunda sentiu. O ar se tornou mais leve, um sorriso discreto em seu semblante se manifestou e ao voltar seu olhar para o lado, pode ver a bela Missy de pertinho.
A felina com seu jeitinho delicado e olhos cor de âmbar o encantou; neste momento, não tinha mais como disfarçar, o eclipse aconteceu. Então, com amor Missy lhe sussurrou ao pé do ouvido: “Achei que você nunca iria descer daquela árvore, já estava ficando cansada de correr pelo gramado de um lado a outro só para chamar a sua atenção”!

Juntos, dissolveram o véu da ilusão que mantinha Aster em cima daquela árvore e a lua rosa para dois corações serenos acenou.
Aster estava tão obcecado por sentimentos do passado que não conseguia perceber o olhar de Missy para ele. O que ele não sabia é que na noite anterior, Missy havia feito uma oração. Em prece, pediu a mãe natureza para que lhe ajudasse a ter um encontro com Aster. O vento que está sempre de ouvidos atentos logo lhe atendeu ao chamado transformando assim, o seu dia.
Reflexão: Às vezes, tudo que precisamos é apenas de um sopro do vento que balance os galhos da nossa árvore para que tomemos uma decisão e faça tudo mudar.
Fica aqui o meu convite para mais uma reflexão.
Porque será que Aster não queria descer daquela árvore?
Que sentimentos havia nutrido durante anos que o mantinham ali?
E Missy, diferente de Aster, quais sentimentos nutria? Boa reflexão, até breve.
